Parlamentares de países do BRICS expressaram críticas, nesta terça-feira (3), em Brasília, à guerra comercial promovida unilateralmente pelos Estados Unidos, por meio de tarifas que vêm afetando os mercados globais desde abril deste ano. A manifestação ocorreu durante o 11º Fórum Parlamentar do bloco, sediado pelo Brasil, que atualmente ocupa a presidência do grupo e reúne os presidentes das comissões de relações exteriores de 15 países, incluindo membros permanentes e parceiros do principal bloco de economias emergentes do mundo.
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, presidiu a reunião e destacou a importância de fortalecer o comércio intra-BRICS. Ele também criticou medidas tarifárias unilaterais adotadas pelos Estados Unidos, ressaltando que “é grande nossa preocupação com o aumento de medidas protecionistas unilaterais injustificadas, inconsistentes com as regras da OMC, incluindo o incremento indiscriminado de medidas tarifárias e não tarifárias e o uso abusivo de políticas verdes para fins protecionistas”.
O parlamentar brasileiro reafirmou o compromisso do BRICS com o multilateralismo, uma postura coletiva que busca soluções conjuntas para os desafios globais, em contraste com as práticas bilaterais ou unilaterais que têm predominado.
Guerra Fria e multilateralismo em debate
Wang Ke, vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento da China, alertou para o retorno da mentalidade da Guerra Fria, com alguns países usando a intimidação unilateral para impor seus interesses. “Alguns países aplicam tarifas em todos os lugares, colocando seus interesses acima da comunidade internacional e ignorando o sistema multilateral de comércio e suas regras, infringindo gravemente os direitos legítimos de todos os países”, afirmou. Wang defendeu a unidade do BRICS como “a espinha dorsal da cooperação no Sul Global e motor do crescimento”, destacando a importância da cooperação para proteger direitos e interesses comuns.
Ali AlNuaimi, representante do Parlamento dos Emirados Árabes Unidos, acrescentou que a ordem mundial pós-Segunda Guerra Mundial não existe mais, ressaltando a importância do BRICS em promover uma abordagem de ganhos mútuos, ao contrário da mentalidade de “ganhar-perder”.
Moedas locais e expansão comercial
A Indonésia, que se tornou membro permanente do BRICS neste ano, foi representada pelo deputado Mardani Ali Sera, que defendeu o uso de moedas locais para pagamentos comerciais entre os países do bloco. Segundo ele, essa prática “reforça nossa resiliência econômica diante dos desafios recentes”. O uso de moedas locais, substituindo o dólar, é uma das principais estratégias do BRICS, embora tenha sido duramente criticada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que ameaçou taxar países que adotarem essa medida para preservar a hegemonia do dólar.
Perspectivas da África e América Latina
O deputado Supra Mahumapelo, da África do Sul, ressaltou os benefícios que seu país tem obtido como membro do BRICS e elogiou o Banco do Novo Desenvolvimento (NDB), presidido pela ex-presidenta Dilma Rousseff. Ele defendeu a reforma das instituições multilaterais da ONU, destacando que a atual arquitetura do sistema internacional favorece de forma desproporcional os países desenvolvidos e grandes corporações.
Representando a Nigéria, membro parceiro do bloco, o deputado Busayo Oluwole Oke ressaltou a necessidade de diversificar os canais comerciais do BRICS para reduzir a dependência dos mercados internacionais tradicionais.
Na América Latina, além do Brasil, que é membro permanente, Cuba e Bolívia participam como membros parceiros. O parlamentar boliviano Felix Ajpi Ajpi destacou as oportunidades de investimento no país, que possui as maiores reservas de lítio do mundo, um recurso estratégico para a transição energética. Ele agradeceu ao Brasil pelo apoio na inclusão da Bolívia como parceiro do BRICS, defendendo a multipolaridade como caminho pacífico para o desenvolvimento, após longos períodos de unilateralismo.
Alberto Nuñez Betancourt, vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores de Cuba, afirmou que o BRICS desafia a hegemonia ocidental, destacando o papel do Novo Banco de Desenvolvimento no financiamento de projetos com uso de moedas locais para países da África e América Latina, com condições financeiras mais vantajosas do que as impostas pelo FMI.
Expansão do BRICS e desafios globais
Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS ampliou recentemente seu quadro de membros permanentes, incluindo Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos no ano passado, e a Indonésia em 2025. Também foram criados membros parceiros, como Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
O Banco do Novo Desenvolvimento atualmente financia cerca de 100 projetos, somando aproximadamente US$ 33 bilhões, e desempenha papel central na estratégia do bloco para ampliar investimentos nos países do Sul Global.
Referência: Agência Brasil